domingo, 18 de novembro de 2007

A “Greve Geral Revolucionária” de 1934


A “Greve Geral Revolucionária” de 1934
em Silves e Portimão
e os “safanões dados a tempo” por Salazar

João Vasconcelos ([*])


Resumo

A chamada «greve geral revolucionária», como ficou conhecido o movimento de resistência operária ao emergente “Estado Novo” de Salazar, que teve lugar no dia 18 de Janeiro de 1934, vai eclodir um pouco por todo o país, com destaque para as localidades da Marinha Grande, Leiria, Coimbra, Almada, Barreiro, Lisboa, Vila Boim, Sines, Póvoa de Santa Iria, Silves e Portimão. Este movimento, conduzido por uma Frente Única Operária, composta pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), de cariz anarco-sindicalista, pela Comissão Inter-Sindical (CIS), de índole comunista e pela Federação das Associações Operárias (FAO), socialista, filiadas em organizações sindicais internacionais, vai envolver acções de vários tipos.
Efectivamente, registaram-se descarrilamentos de comboios, troca de tiros e lançamento de bombas, cortes de linhas telefónicas e telegráficas, sabotagem dos transformadores de uma central eléctrica, manifestações e greves operárias como nas cidades algarvias de Silves e de Portimão.
Na Marinha Grande a situação é mais espectacular atingindo características insurreccionais – os revoltosos, armados com caçadeiras, revólveres, pistolas e bombas, atacam à bomba o Posto da GNR desarmando os soldados desta corporação e ocupam a Vila por algum tempo. Mais acções estavam para acontecer, mas não se verificaram. Por pouco Silves não se transformou numa segunda Marinha Grande.
A projectada greve geral foi reduzidíssima a nível nacional. Salazar, sem grandes dificuldades, consegue restabelecer a ordem em pouco tempo. A repressão foi violentíssima, cujo expoente máximo foi a punição implacável de muitos revoltosos no campo de concentração do Tarrafal – eram os salazaristas “safanões dados a tempo”.

1. A eclosão do 18 de Janeiro

A chamada «greve geral revolucionária», como ficou conhecido o movimento, vai eclodir apenas na Marinha Grande, Leiria, Coimbra, Almada, Cova da Piedade, Barreiro, Lisboa, Cacém, Vila Boim, Sines, Martingança, Póvoa de Santa Iria, Silves e Algoz. Este movimento, conduzido por uma Frente Única, composta pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), Comissão Inter – Sindical (CIS), Federação das Associações Operárias (FAO), Comissão dos Sindicatos Autónomos e pela Comissão dos Trabalhadores do Estado, as três primeiras filiadas em organizações sindicais internacionais
[1], vai envolver acções de vários tipos.
Tiveram lugar descarrilamentos de comboios em Braga e Póvoa de Santa Iria, este efectuado por comunistas, interrompendo as comunicações nas linhas do Norte e Leste; em Coimbra, os anarquistas fizeram explodir os transformadores de corrente da central eléctrica, levando à paralisia dos transportes públicos e ficando a cidade às escuras; verifica-se a sabotagem da via férrea próximo de Algoz; uma bomba explode na linha férrea, próximo da estação de Martingança; uma bomba é lançada no Barreiro provocando alguns feridos ligeiros; outras duas bombas são lançadas contra um comboio, em Benfica; ocorrem cortes de linhas telefónicas e telegráficas em Leiria, Marinha Grande, Cacém, Almada, Vila Boim e Silves; verificam-se confrontos e troca de tiros entre operários armados de bombas que queriam assaltar uma fábrica de pólvora, e as forças policiais, em Chelas e Xabregas, com lançamento de uma bomba; há manifestações de operários e greves no Barreiro, Sines, Almada, Silves, Seixal, Alfeite, Cacilhas, Setúbal e Portimão; na Marinha Grande a situação é mais espectacular atingindo características insurreccionais – os revoltosos, armados com caçadeiras, revólveres, pistolas e bombas, cortam as comunicações com Leiria, bloqueiam as vias de acesso, atacam à bomba o Posto da GNR desarmando os soldados desta corporação, ocupam a Estação dos Correios e Telégrafos, reabrem o Sindicato Vidreiro e ocupam a Vila por algum tempo
[2]. Mais acções estavam para acontecer, mas não se verificaram.
A projectada greve geral foi reduzidíssima a nível nacional. Mesmo no que diz respeito a confrontos violentos, sabotagens, atentados e ocupações, ficaram muito aquém do que fora planeado. Salazar, sem grandes dificuldades, consegue restabelecer a ordem em pouco tempo. Como alguns previram, não havia condições em Portugal para desencadear um movimento de características operárias insurreccionais contra o «Estado Novo». A excepção foi a Marinha Grande, não obstante as grandes limitações e dificuldades ali sentidas. Caso os operários armados, cujos principais dirigentes eram comunistas, não tivessem ocupado a Vila, mesmo por um brevíssimo período de tempo, o «18 de Janeiro de 1934» não teria sido porventura aquilo que foi, circulando e perdendo-se por entre as veracidades da História e as brumas do Mito.

2. As Acções em Silves

Silves nos inícios dos anos 30 continuava a ser um importante centro corticeiro, contando com cerca de 10 000 habitantes. Funcionava desde o início do século XIX como uma espécie de entreposto comercial da cortiça alentejana, incrementando «uma corrente de exportação que, passando por S. Marcos, chega a Silves donde sai, rio abaixo até ao mar, para outras paragens onde vai ser transformada». É o comércio de cortiça bruta que, se não cria postos de trabalho, nem fixa as populações, «(...) chama as atenções para a cidade e atrás da cortiça vêm os industriais dela»
[3].
Assim vai surgir a indústria corticeira que encontra terreno propício, tanto na região produtora da matéria-prima (Serra e Baixo Alentejo), como na facilidade do seu escoamento através do rio Arade e na existência de uma mão-de-obra rural disponível e barata. Devido à especificidade desta indústria corticeira, com vista à exportação de produtos manufacturados, levou a que em Silves se implantasse um número reduzido de grandes fábricas para esse fim, reunindo-se em seu torno pequenas fábricas de tipo familiar, sem grande capacidade de laboração e de exportação
[4]. Nos finais do século XIX, Silves tinha 11 fábricas, um dos maiores centros industriais do Algarve, «com mais de 1 000 operários e aprendizes, só a fábrica «Vilarinho e Sobrinho» possuindo cerca de 600»[5]. Operários especializados vindos da Catalunha trouxeram algumas inovações técnicas que ensinaram aos operários de Silves, transmitindo-lhes também, muito provavelmente, as ideias anarquistas.
Se, em 1917, o concelho possuía 13 fábricas de cortiça com 503 pessoas, (75,9% do total de operários), em 1930 as fábricas deste sector já ascendiam a 37, empregando 651 operários, (54,8% de corticeiros), num total geral de 1189 indivíduos, abrangendo outras actividades industriais
[6]. Apesar da percentagem de operários corticeiros ter descido, por força da diversificação industrial, estes constituíam nos inícios dos anos 30, um forte núcleo proletário. A crise económica e social que se abate impiedosamente sobre Silves e sobre todo o Algarve, provocando no concelho para cima de três centenas de despedimentos, leva a que, em Janeiro de 1934, o número de empresas corticeiras diminua para 23, empregando 880 operários[7]. A crise de trabalho e a miséria eram tamanhas entre os trabalhadores, que as próprias autoridades municipais solicitavam à Divisão Hidráulica do Guadiana, a realização de obras de limpeza no rio Arade, ribeiras e valas, por forma a ocupar os homens desempregados[8]. Por outro lado, havia o receio de um despoletar da conflitualidade social.
Os corticeiros silvenses possuíam, desde longa dada, uma tradição de luta e resistência contra as más condições de vida, os baixos salários, as longas jornadas de trabalho, contra a exportação de cortiça em bruto ou em prancha, contra o patronato e as forças policiais. Desde 1886 que existia a Associação de Classe dos Operários Corticeiros de Silves, durante muito tempo a única na zona. Mais tarde vão surgir outros sindicatos – Construção Civil, Empregados no Comércio e Indústria, Carroceiros, Manufactores de Calçado e Trabalhadores Rurais
[9]. A classe corticeira era a classe profissional maior e melhor organizada. Em 1921, a sua Associação de Classe decide inscrever no frontispício do 2.º andar da sua sede as palavras «Pão, Luz e Liberdade», onde «mais do que uma divisa, era uma bandeira, um programa de acção que caracterizou quarenta anos de actividade sindical»[10].
O proletariado de Silves adere à greve geral convocada pela União Operária Nacional, em 1918 contra a carestia e a falta de pão, e em 1920, 1924 e 1925 por aumentos salariais. Particular impacto teve a greve de 1924, não só em Silves como por todo o Algarve, devido ao seu carácter prolongado de dois meses e à repressão levada a cabo pela Guarda Republicana, que provocou vários feridos e um morto, desencadeando uma greve geral no dia seguinte
[11]. O sentimento de revolta e emoção que se seguiu, faz surgir ainda no ano de 1924 dois grupos anarquistas – o Grupo Libertário “Mártires 22 de Junho”, em Silves e o Grupo Libertário “Os Unificadores”, em S. Bartolomeu de Messines[12]. O anarquismo encontrou assim terreno propício em centros operários como Silves e Messines, permanecendo como ideologia dominante nos meios operários até final dos anos 20.
A situação vai alterar-se com a reorganização comunista de 1929, crescendo a influência do PCP. No início dos anos 30, difundem-se O Proletário, O Reduto, órgão da poderosa Federação dos Transportes sob a direcção de José de Sousa, o Avante! e o boletim O Trabalho Sindical, este último determinando a organização de Grupos de Defesa Sindical em diversos sectores, como os corticeiros, no Distrito de Faro
[13]. É assim que, no ano de 1933, se forma o Comité Revolucionário de Silves, com a participação conjunta de anarquistas e comunistas, com vista à preparação do “18 de Janeiro de 1934”. A Associação Corticeira, recusando os Decretos corporativos dos «sindicatos-nacionais», decide em Assembleia Geral de 30 de Dezembro de 1933, conforme já referimos, a sua extinção, nomeando uma comissão liquidatária[14] para proceder à oferta do mobiliário e biblioteca à Cooperativa «A Compensadora», conseguindo ainda fazer a transferência dos seus fundos para a Federação Corticeira sediada em Almada.
O Comité Revolucionário de Silves, tendo à sua frente o comunista José Gonçalves Victor e o anarquista Virgílio Barroso, mantinha ligações com a cidade de Lisboa, pois daqui iria receber a senha para dar início ao movimento grevista. O Comité, formado entre outros, por Domingos Passarinho, Manuel Pessanha e Abatino Luiz da Rocha, também tinha por função a coordenação de dois grupos de acção – um de comunistas e outro de anarquistas, embora se verificasse uma colaboração entre si na distribuição de propaganda, de acordo com o que nos diz Francisco Nicolau, um dos participantes no 18 de Janeiro, em entrevista a Fernando Fitas
[15].
Na cidade de Silves, os operários e os seus dirigentes, quer anarco-sindicalistas, quer comunistas, vão actuar em unidade contra Salazar, embora tenham dois centros de organização distintos. Na noite de 17, tanto uns como outros reúnem-se no campo, a coberto das árvores, munidos de pistolas e bombas (a concepção anarquista fazia-se sentir fortemente entre os comunistas), daqui partindo vários elementos que cortaram os fios telefónicos. Outros, na manhã de 18, assaltaram e abriram a sede da antiga Associação Corticeira que fora encerrada a mando das autoridades. O plano decorria conforme planeado, tanto mais que a senha não fora quebrada: como o comboio correio não chegou à Estação de Silves às 7 horas, significava que os ferroviários tinham aderido à paralização e que a revolução eclodira em Lisboa. Ocupado o edifício da Associação de Classe dos Corticeiros, preparavam-se os revoltosos para atacar o quartel da Guarda Nacional Republicana, quando chegou a notícia que o comboio tinha chegado à Estação
[16]. Efectivamente o comboio chegou com bastante atraso, fazendo gorar todo o plano posterior.
Se o plano insurreccional, nomeadamente o ataque à GNR, falhou, o mesmo não se pode dizer da greve, que foi geral entre os operários corticeiros. Diversos dirigentes grevistas, como o anarquista Manuel Pessanha, andaram pela cidade a apelar à greve, levando até os estabelecimentos comerciais a encerrar as suas portas. Teria ainda Manuel Pessanha provocado «manifestações subversivas, hasteando uma bandeira comunista na sede da Associação dos Corticeiros»
[17], depois de arrombada a porta desta. Muito dificilmente um anarquista iria hastear uma bandeira comunista no sindicato, o mais provável é que se tratasse da bandeira da própria Associação Corticeira. A P. V. D. E. via comunistas e símbolos comunistas por toda a parte. Era a ideologia que começava a afirmar-se nos meios operários e a substituir a influência do anarco-sindicalismo no seu seio – daí o combate do regime Salazarista, cada vez mais feroz, ao Partido Comunista. O que não aligeirou, diga-se, a repressão contra o anarquismo declinante.
Apesar da Silves operária ter aderido à greve geral de forma pacífica
[18], (como preconizava a linha oficial do PCP afecta a Bento Gonçalves), sem o recurso a acções violentas, excepto o derrube dos postos telegráficos e telefónicos e o assalto à sede da Associação Corticeira, muitos outros actos de cariz violento estavam para eclodir, com o recurso a bombas e a outros meios ofensivos, como aliás, também se previam actos desta natureza noutras localidades do Algarve[19]. E, de um modo geral, os comunistas encontravam-se inseridos nas concepções de luta anarquistas.

3. O Movimento em Portimão

A cidade de Portimão, um importante centro operário conserveiro e piscatório também teve uma participação notável no 18 de Janeiro de 1934. Aqui existia uma União de Sindicatos, compreendendo os Sindicatos Operários da Indústria de Conservas, da Indústria da Construção Civil, da Indústria do Calçado, dos Carpinteiros Navais, dos Chaffeurs Marítimos, dos Estivadores, dos Fragateiros, o Sindicato Único Metalúrgico e a Associação de Classe dos Operários Corticeiros
[20].
Em Portimão foi constituído um Comité Revolucionário, tal como sucedeu noutras localidades do Algarve. A formação deste Comité surgiu na reunião realizada na oficina do sapateiro José Mendes do Carmo, com a presença do anarquista José Negrão Buízel. A directiva para a constituição destes Comités teria partido do dirigente máximo da CGT, Mário Castelhano que, nos meses de Novembro e Dezembro de 1933 participou em várias reuniões na região algarvia, incluindo uma na Praia da Rocha
[21].
No dia 18 de Janeiro milhares de operários e outros Portimonenses foram para a rua manifestar-se contra o encerramento dos sindicatos livres e a criação dos “sindicatos nacionais” fascistas. Esta enorme manifestação ocorreu no Largo do Coreto, nela participando operárias conserveiras que lutavam contra o encerramento do Sindicato das Conserveiras, pescadores que estavam em luta contra o encerramento da Mútua dos pescadores, operários agrícolas do Morgado do Fialho e de outros latifúndios, que lutavam contra o encerramento do Sindicato dos Operários Agrícolas. A GNR, tendo à sua frente o Capitão Quintino, reprimiu ferozmente a manifestação, batendo nas pessoas e atirando contra elas os cavalos que as esmagavam. Horrorizados, os manifestantes debandaram, muitos outros ficaram feridos ou foram presos, muitos deles sindicalistas e do Comité Local do Partido Comunista
[22].

4. A Repressão Salazarista

O desfecho da «Greve Geral Revolucionária» foi desastroso para o movimento operário. Centenas, senão milhares de activistas e militantes comunistas, anarquistas e até socialistas, republicanos e outros
[23], vão sofrer com o desaire do movimento de 18 de Janeiro de 1934. Reforça-se a repressão do regime Salazarista, na forma de perseguições, prisões, torturas, deportações, mortes. Eram os «safanões dados a tempo» por Salazar.
Muitos dos participantes no 18 de Janeiro são assim atirados para os temíveis presídios do Salazarismo, como os Fortes de Caxias, Peniche e S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, e para sinistros campos de concentração, autênticos campos da morte bem longe da Metrópole – Forte Roçadas e Vila Nova de Seles em Angola, Fortaleza de S. Sebastião na Ilha de Moçambique, Oecussi em Timor, Tarrafal em Cabo – Verde. Em 23 de Abril de 1936, pelo Decreto-lei n.º 26 539, é criada uma Colónia Penal, ou melhor dizendo, um campo de concentração, no lugar do Tarrafal, na Ilha de Santiago, Arquipélago de Cabo – Verde, cujo objectivo era a punição de forma implacável dos presos que se opunham a Salazar. No dia 29 de Outubro do mesmo ano, chegam ao “Campo da Morte Lenta” os primeiros 152 presos
[24], levados dos presídios de Peniche, Aljube, Caxias, Penitenciária de Lisboa e de Angra do Heroísmo. Entre os prisioneiros encontravam-se Mário Castelhano e Bento Gonçalves, dirigentes máximos da CGT e do PCP, respectivamente, que acabaram por perecer no Tarrafal, vítimas dos maus tratos e da doença.
A repressão que se abateu sobre aqueles que prepararam e participaram no 18 de Janeiro, foi violentíssima. Condenados pelo Tribunal Militar Especial, as sentenças atingiram várias centenas de anos de prisão, deportação e degredo nas colónias e pesadas multas. As torturas, os espancamentos, os maus tratos físicos e psicológicos também foram constantes, de que resultaram várias mortes. De acordo com as investigações realizadas por Fátima Patriarca, as localidades que apresentam um maior número de detidos são: Lisboa (227), Marinha Grande (122), Coimbra/Anadia (83), Barreiro (41), Almada (37), Silves (35), Portimão (19)
[25], Leiria (18) e Sines (14). Na totalidade foram presos 696 indivíduos ligados à greve geral revolucionária. Destes, são enviados ao Tribunal Militar Especial 435[26], sendo condenados a grande maioria – 260 grevistas. Deste número, 107 recebem penas de prisão correccional até dois anos, em que as mais elevadas são acompanhadas por pequenas multas pecuniárias e perda de direitos políticos por cinco anos, 89 são condenados a penas que variam entre três e oito anos, a que se junta o degredo ou desterro, com ou sem prisão e pesadas multas, e 64 elementos são condenados a pesadíssimas penas – degredo ou desterro, quase sempre com prisão, entre os dez e os vinte anos e multas de vinte contos[27]. Estão neste último caso os principais dirigentes e responsáveis políticos e os militantes e operacionais que prepararam e participaram no 18 de Janeiro, onde se incluem António Estrela, comunista, e Virgílio Pires Barroso, anarquista, principais responsáveis de Silves.
Durante quase duas décadas, passaram pelo Tarrafal 354 homens, ali perecendo 32, muitos ligados ao 18 de Janeiro, como Mário Castelhano e Bento Gonçalves. Muitos outros viriam a falecer prematuramente, vítimas dos maus tratos e das doenças contraídas. O Tarrafal para presos políticos, idos da Metrópole, vem a terminar no dia 26 de Janeiro de 1954
[28], mas continuou até 1974 para os presos políticos das colónias africanas que lutavam contra o colonialismo português.
As condições do Campo que os presos tinham de suportar eram terríveis: sob a acção da chuva, do sol, da humidade, alimentação insuficiente e intragável, a água inquinada, condições sanitárias péssimas, pragas de mosquitos, doenças como a mortal biliosa, as infecções intestinais e o paludismo, escassez de medicamentos, torturas e tratamentos cruéis e desumanos, a horrível «Frigideira»
[29], a famigerada «Brigada Brava»[30], – tudo isto suportaram alguns homens do 18 de Janeiro. Salazar procurou assim, reduzir ao silêncio mais completo, estes defensores enérgicos da liberdade.
Os 152 presos desembarcados no Tarrafal vão ficar alojados durante cerca de três anos em barracas de lona que, devido à acção do sol e da chuva depressa apodrecem, contribuindo para arruinar a sua saúde. Os ventos que sopravam continuamente partiam os ferros frágeis, a poeira cobria as barracas e os corpos, não havia água, muitos tectos voavam, os presos suportavam as chuvas violentas, as doenças apareciam, não havia médico, nem enfermeiro, nem medicamentos. Os presos começavam a morrer, para contentamento do director do Campo, Manuel dos Reis (que declarava que quem viesse para o Tarrafal vinha para morrer) e do “médico”-carcereiro Esmeraldo Pais Pratas, o sinistro “Tralheira” (que afirmava que não estava ali para curar, mas para assinar certidões de óbito).
A época mais terrível era a do fim das chuvas, no final de Outubro, que infundia um verdadeiro terror em todo o Campo – era o período das biliosas, que se seguia ao período crítico do paludismo (altíssimas febres frias e quentes). Aqueles que escapavam às febres do mosquito, ou seja, ao paludismo, raramente sobreviviam à biliosa. Foi o que matou o Secretário-Geral do Partido Comunista e o Secretário-Geral da Confederação Geral do Trabalho. A morte traiçoeira acabou por vencer os insurrectos do «18 de Janeiro» (e muitos outros), com a cumplicidade criminosa do carcereiro do Campo, Esmeraldo Pais Pratas, que possuía um diploma de médico. Gilberto de Oliveira, militante das Juventudes Comunistas nos anos 30, ao fazer o seu depoimento sobre o «Campo da Morte Lenta», em Memória Viva do Tarrafal, define-o como «meio ambiente para a morte natural de opositores políticos», em que o «assassínio e a tortura» eram «legalizados»
[31].
Para quem ainda tenha dúvidas, encontra-se assim desfeito o mito dos «safanões dados a tempo» pelo tirano de Santa Comba, aquele que alguns consideram como o «grande português do século XX». Certamente que muitas pessoas de bem, anti-fascistas e lutadores pela liberdade, onde se incluem diversos silvenses e portimonenses participantes ou simpatizantes do 18 de Janeiro de 1934, que sofreram na pele, na carne e no pensamento as agruras das grilhetas salazaristas, terão dito e dirão para sempre que Oliveira Salazar foi «o maior bandido de Portugal do século XX».
Muito obrigado pela vossa atenção.

Bibliografia

Sobre a principal bibliografia consultada, vide notas deste trabalho.

Observação: Comunicação feita no 13º Congresso do Algarve, no Centro Cultural de Lagos, no dia 16 de Novembro de 2007.

([*] ) Professor, Mestre em História Contemporânea. Presentemente investiga o movimento operário no Algarve durante o período da Ditadura Militar (1926 – 1934).
Notas:
[1] A C. G. T. de tendência anarco-sindicalista, estava filiada na Associação Internacional dos Trabalhadores (A. I. T.), conhecida por «Internacional de Berlim», fundada em 1922. A C. G. T. juntamente com a C. N. T. de Espanha, era uma das principais secções da Internacional Anarquista. A C. I. S. era aderente à Internacional Sindical Vermelha (I. S. V.), comunista, com sede em Moscovo, fundada em 1921, enquanto a F. A. O., de tendência social-reformista, encontrava-se ligada à Federação Sindical Internacional de Amsterdão, ou «Internacional de Amsterdão», fundada em 1919, secção da II Internacional, social-democrata (ver A. Schapiro, As Três Internacionais Sindicais – Amsterdão, Moscovo, Berlim, Lisboa, Editorial de «A Batalha», 1925, 35 págs.).
[2] Cf. Maria Filomena Mónica, «Poder e saber: os vidreiros da Marinha Grande», in Análise Social, Lisboa, 3.ª e 4.ª Série, Vol. XVII, n.º 67-68, 1981, p. 555; Fátima Patriarca, o 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande, s. l., Edição Museu Santos Barosa da Fabricação do Vidro, 1997, pp. 9-17; Idem, Sindicatos contra Salazar. A revolta do 18 de Janeiro de 1934, Lisboa, Edição do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2000, p. 233-235.
[3] Cf. Maria das Dores Jorge de Goes, Silves Naquele tempo... e agora (1956 – 1997), Silves, Câmara Municipal de Silves, 1998, p. 15.
V. Manuel Castelo Ramos, «Da Produção de Cortiça à Indústria: em Silves», in Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Exposição Permanente. Estudos. Catálogo, Silves, Fábrica do Inglês, 1999, pp. 49-58.
[4] V. João José Ferreira, «A cidade de Silves e a relação com o campo. Condicionalismos e perspectivas», in I Jornadas de Silves, Actas, Silves, Associação de Estudos e Defesa do Património Histórico – Cultural de Silves (AEDPHCS), 1993, p. 129.
[5] Cf. José Tengarinha, «Os trabalhadores industriais do Algarve nos séculos XIX – XX», in Maria da Graça Maia Marques (coord. de), O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias, Lisboa, Edições Colibri, 1999, p. 467.
[6] Cf. João Madeira, «Silves e o movimento operário», ibidem, p. 469.
[7] V. Fátima Patriarca, Sindicatos contra Salazar..., cit., pp. 425-426.
Como se verifica, os dados apresentados por esta investigadora, diferem daqueles que nos são fornecidos por João Madeira. Caso se considere o número de «1189 empregados» como trabalhadores corticeiros, assim os dados já são mais aproximados.
[8] Cf. Arquivo Municipal de Silves, Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Silves, in Cx. de Minutas de Actas de 1932-34, Minuta de Acta n.º 4, sessão ordinária de 21 de Fevereiro de 1934. O ofício à Divisão Hidráulica do Guadiana conclui da seguinte forma: «Solicitar ao Exmo. Governador Civil do distrito o seu valioso patrocínio para a execução destas obras que muito atenuarão a crise de trabalho que apoquenta este Concelho».
[9] José dos Reis Sequeira, Relembrando e Comentando (Memórias de um Operário Corticeiro) 1914/1938, Lisboa, A Regra do Jogo, 1978, pp. 29 e 35. A data da fundação da Associação dos Corticeiros varia segundo algumas fontes. Se José dos Reis Sequeira aponta o ano de 1886, já o artigo «Pão, Luz e Liberdade. O 38º aniversário dos corticeiros de Silves», in O Proletário, n.º 5, de 30 de Junho de 1929, indica 1891. Por sua vez, em «40º aniversário da Associação de Classe Corticeira», in Voz do Sul, Silves, n.º 772, de 26 de Agosto de 1933, menciona o ano de 1893.
[10] Cf. João Madeira, «Silves, os Corticeiros e a sua Associação de Classe – “Pão, Luz e Liberdade», in IV Jornadas de Silves, Actas, Silves, AEDPHCS, 1997, p. 188.
[11] Sobre a greve, a onda de solidariedade operária e os acontecimentos sangrentos de Junho de 1924 em Silves, veja-se José dos Reis Sequeira, op. cit., pp. 59-66.
[12] João Madeira, «Silves, os Corticeiros e a sua Associação de Classe...», op. cit., p. 188.
[13] Ibidem, p. 189. Idem, «O Partido Comunista no Algarve (dos anos vinte ao final da II Guerra Mundial), in Maria da Graça Maia Marques (coord. de), op. cit., pp. 497-499.
As próprias autoridades nesta época, aludem frequentemente à influência das ideias comunistas nas localidades operárias, como Silves, antes e por altura dos acontecimentos do “18 de Janeiro de 1934”. O Governador Civil de Faro, em ofício ao Ministro do Interior, em 1931, indica que, «(...) só a propaganda comunista se tem intensificado, nos meios operários (...)» (cf. ADF/Governo Civil de Faro, Correspondência Confidencial..., cit., Livro 255 A, Ofício ao Ministro do Interior, n.º 78, de 11 de Maio de 1931).
[14] A Comissão Liquidatária foi constituída por Domingos Passarinho, Joaquim Rodrigues, Daniel Pincho e Francisco Álvares Marques, estes dois últimos secretário e tesoureiro da Direcção (João José Ferreira, op. cit., p. 130).
[15] Cf. Fernando Fitas, «Em Silves também houve 18 de Janeiro», depoimento de Francisco Nicolau, in Notícias do Sul, Évora, ano I, n.º 18, de 3 de Fevereiro de 1977, p. 8.
[16] Ibidem. Veja-se também Alfredo Canana, «O 18 de Janeiro de Silves», in Diário de Lisboa, de 5 de Janeiro de 1980, p. 9. Caso o comboio chegasse com mais alguns minutos de atraso e os revoltosos teriam empreendido o assalto ao quartel da GNR, podendo vir a constituir Silves uma 2.ª Marinha Grande.
[17] Cf. ANTT/PIDE-DGS, «Biografia Prisional de Manuel Pessanha», Proc. R. G. P. – 160, fl. 1.
[18] Tendo em conta as investigações de Fátima Patriarca, os operários corticeiros de Silves paralisaram totalmente a 18 de Janeiro, de forma parcial a 19, voltando a fazê-lo massivamente nos dias 20 e 21. No dia 22, são os patrões que, por ordens do governo encerram todas as fábricas durante 21 dias, impedindo os operários de comparecerem ao trabalho. A reabertura das fábricas com a consequente readmissão dos corticeiros, só foi conseguida depois de diversas solicitações do patronato junto das autoridades e após a prisão dos principais cabecilhas da greve, como o anarquista Virgílio Pires Barroso (cf. Fátima Patriarca, Sindicatos contra Salazar..., cit., pp. 438-455).
[19] Veja-se por exemplo o artigo «Inimigos da Pátria. Os manejos extremistas no Algarve», in Correio do Sul, Faro, ano XV, n.º 881, de 4 de Fevereiro de 1934, p. 2, em que noticia a prisão de vários elementos pertencentes aos comités revolucionários de Tavira, Vila Real de Santo António e Castro Marim, e a apreensão de diverso material, «que constava de 34 bombas de choque, vindas de Lisboa, em 2 malas, e encontradas em Castro Marim e Vila Real».
[20] Maria João Raminhos Duarte, Portimão Industriais Conserveiros na 1ª Metade do Século XX, Lisboa, Edições Colibri, 2003, p. 107.
[21] João Madeira, «A greve geral de 1934 no Algarve», cit., p. 528.
[22] Margarida Tengarrinha, «Entrevistas conduzidas por Miguel Medina», in Esboços. Antifascistas Relatam as suas Experiências nas Prisões do Fascismo, Lisboa, Edição da Câmara Municipal de Lisboa, 1999, p. 141.
[23] No Processo n.º 27/A-34, Arquivo PIDE/DGS, ANTT, fls. 2-11, encontramos uma «Relação dos Presos Enviados ao Tribunal Militar Especial em 1934», por terem participado no movimento de 18 de Janeiro. Enviados pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), de vários pontos do país: Faro, Portimão, Silves, Coimbra, Setúbal, Porto, Lisboa e outros locais, em que muitos deles vão parar ao Tarrafal. Ao todo são 435 presos, onde se incluem 36 militares (cujo processo foi enviado ao Ministério da Guerra) assim distribuídos: 3 capitães, 1 tenente, 1 furriel, 14 primeiros sargentos, 12 segundos sargentos, 3 sargentos ajudantes, 1 primeiro cabo e 1 soldado.
[24] Os primeiros ocupantes do Campo do Tarrafal eram os seguintes: cerca de 35 marinheiros da revolta de 8 de Setembro de 1936, cerca de 60 presos que se encontravam nas prisões de Lisboa, Porto, Coimbra, etc, cerca de outros 40 presos do presídio de Angra do Heroísmo, e à volta de uns 20 outros elementos heterogéneos, entre os quais se encontravam alguns portugueses radicados na Galiza e repatriados pelos nacionalistas espanhóis (cf. Gilberto de Oliveira, Memória Viva do Tarrafal, Lisboa, Edições Avante!, 1987, p. 70).
[25] Curiosamente, Fátima Patriarca não menciona os detidos de Portimão, o que de acordo com o Processo n.º 27/A – 934, cit., Arquivo PIDE/DGS, fls. 63 e 64, são em número de 19. No fl. 63, em ofício datado de 14 de Março de 1934 e enviado ao Presidente do Tribunal Militar Especial de Lisboa, da parte da Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado, desta cidade, é remetido o processo organizado pela Polícia de Faro em que constam os nomes de diversos elementos detidos na prisão do Governo Civil e à disposição do referido Tribunal. Esses elementos são os seguintes: José Negrão Buísel, José Mateus da Graça, Joaquim Pedro, Abundancio José, Manuel d’Arez, Artur da Silva, o “Nicho”, Gregório da Purificação ou Gregório Rita, António Rodrigues, Manuel Dias Pereira, José Mendes do Carmo e Manuel Marques.
No fl. 64, um outro ofício, datado de 17 de Março e também da PVDE de Lisboa, enviado ao T. M. E., remete o processo de mais alguns presos, organizado igualmente pela Polícia de Faro, detidos na 1.ª Esquadra da P. S. P. de Lisboa e que são: José d’Oliveira Calvário Júnior, António do Carmo Carrasco ou António Catarino, António José dos Santos, o “Galaraz”, Francisco António da Luz, Abílio da Silva, Francisco Diogo, o “Chico Miúdo”, Francisco da Glória Perrólas e José Dantas.
Todos estes presos fazem parte do Processo n.º 27/A – 934, cit., fl. 7, organizado pela PVDE – relação dos presos enviados ao T. M. E. em 1934 – num total de 435 elementos, «incriminados por terem tomado parte activa no último movimento revolucionário de 18/1/34».
Segundo entrevista realizada em Portimão, no dia 14 de Maio de 2002, a José Marques (nascido em 16/06/15 e residindo nesta cidade na altura do 18 de Janeiro), filho do detido Manuel Marques, confirma-nos o mesmo que todos os elementos acima mencionados eram efectivamente de Portimão. José Marques recordou-nos ainda algumas das suas profissões: José Mateus da Graça, trabalhador da fábrica de gasosas, Abundancio José, carpinteiro (criador de uma biblioteca popular), Artur da Silva, conhecido pelo “Nicho” e Gregório da Purificação, trabalhadores na Litografia da Fábrica Fialho, José Mendes do Carmo, sapateiro, Manuel Marques, António Rodrigues e Manuel d’Arez, operários conserveiros, António Catarino, estivador e António José dos Santos, conhecido por “Galaraz”, tipógrafo.
O entrevistado José Marques confirmou-nos ainda que seu pai, Manuel Marques, era na altura do 18 de Janeiro já adepto das ideias comunistas e não ligado à C. G. T., conforme afirma Fátima Patriarca em Sindicatos contra Salazar..., cit., p. 518. Condenado, acabou por ir parar à Fortaleza de Peniche, de onde saiu em Outubro de 1935.
[26] Enquanto Fátima Patriarca menciona o número de 417 elementos enviados ao Tribunal Militar Especial, no Processo n.º 27/A – 934, cit., fls. 2-11, encontram-se, conforme já referimos, os nomes de 435 indivíduos, 36 dos quais enviados ao Ministério da Guerra por serem militares.
[27] Cf. Fátima Patriarca, Sindicatos contra Salazar..., cit., pp. 458-459.
[28] O último preso político português a sair do Tarrafal foi o dirigente comunista Francisco Miguel, precisamente no dia 26 de Janeiro de 1954, depois de ali ter permanecido pela segunda vez durante 3 anos, sozinho nos últimos seis meses (v. Francisco Miguel, Uma Vida na Revolução. Os Comunistas, Porto, A Opinião, 1977, p. 125).
[29] A «Frigideira» consistia num cubo de cimento, dividido em dois compartimentos, cada um com três passos de comprimento por dois de largura. Cada cela tinha uma porta de chapa de ferro com alguns pequenos orifícios em cima. Durante o dia, o ambiente no interior era abrasador e asfixiante, à noite gelava-se. O preso era ali encerrado descalço e num espaço exíguo que, mal dando para uma ou duas pessoas, por vezes eram mais de 10 presos. O único mobiliário era um caldeirão para as fezes e nem enxerga havia. Quando os presos pediam água, a mesma era fornecida a ferver. O alimento consistia em pão e água, por vezes durante mais de vinte dias e era nestas condições, de fraqueza extrema, que os presos ingressavam na «Brigada Brava» para trabalhos forçados (cf. Manuel Alpedrinha, «Sobreviventes do Tarrafal continuam a luta», in Alavanca, ano I, n.º 4, Julho de 1977, pp. 26-27 e Francisco Miguel, Das Prisões à Liberdade, cit., pp. 77-79).
[30] Os prisioneiros do Tarrafal encontravam-se sujeitos a todo o tipo de provocações, insultos, vexames, espancamentos e castigos, e eram obrigados a suportar verdadeiros trabalhos forçados, agrupados em brigadas de trabalho nas pedreiras, a transportar água para o campo e a abrir caminhos. A brigada mais célebre, foi a terrível «Brigada Brava», «uma diabólica criação do terceiro director do campo, o capitão João da Silva, ex-tirocinante nos campos de concentração nazis e futuro responsável pelo presídio de Caxias (...)». Os presos eram obrigados a cavar o dia todo em solos rochosos e cheios de pedras, debaixo de uma temperatura de 40 graus, sem poder levantar a cabeça por um instante, em dois turnos de quatro horas cada. Encontravam-se impedidos de beber água ou de urinar mais que uma vez em cada turno e até não podiam enxugar o suor. A pouco e pouco os elementos desta brigada regressavam ao campo em padiola ou nos braços dos companheiros e de manhã nem se podiam levantar, tão extenuados e doentes se encontravam (cf. Alberto Pedroso, «Os presídios do regime salazarista», in João Medina (dir. de), História de Portugal dos Tempos Pré-Históricos aos Nossos Dias, Vol. XIII – O «Estado Novo», Alfragide, Clube Internacional do Livro, 1998, pp. 54-56).
[31] Cf. Gilberto de Oliveira, Memória Viva do Tarrafal, Lisboa, Edições Avante!, 1987, pp. 95 e ss.

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